Homenagear Bolsonaro pelo que ele não fez é agredir BH, presidente Nely Aquino
Que me desculpe a presidente da Câmara de Belo Horizonte, Nely Aquino (PODE), mas essa intenção de homenagear Bolsonaro por algo que ele não fez e ainda contesta é um desrespeito. Uma agressão à memória dos cerca de 200 belo-horizontinos mortos e a toda a população da capital; aos outros 1.000 mineiros mortos e aos quase 65 mil brasileiros igualmente perdidos.
Nely Aquino e Bolsonaro, montagem em fotos do site da Câmara de BH e da Agência Brasil
A sra. pode até argumentar que moção de apoio e outras bajulações são aprovadas pelas Câmaras e outros Legislativos sem olhar a quem (geralmente, autoridades). Como de praxe, o fazem de maneira automática, sem objeção ou necessidade de votação, mas há controvérsias e deverá encontrar resistências.
Nesse momento, especialmente, soa como agressão aos mortos pela Covid-19. Primeiro, não é hora disso. A Câmara deveria gastar sua energia, atribuições e prerrogativas para ajudar no combate ao coronavírus. Ou seja, esse paparico poderia ficar para outra hora menos grave, caso a maioria dos vereadores avalie, depois, que ele mereça.
Presidente ignora a pandemia
Segundo, e o mais grave, a homenagem a ele seria porque “tem tido uma atuação exemplar no combate ao coronavírus”. Além de fake News, agrava a afronta a quem está esperando ajuda nos hospitais para não morrer. Até porque se os autores da medida fingem não saber, para o presidente da República não existe pandemia, Covid etc.
Por essa razão não assumiu, como é de sua responsabilidade, a coordenação desse combate. Ao contrário, briga e estimula seus seguidores a brigarem com governadores e prefeitos (vide manifestações contra o prefeito de BH nesse domingo, 5) porque eles enfrentam a crise.
Risco de vexames
Além de contradizer ao próprio Bolsonaro, que estaria sendo homenageado por algo que ele não fez e garante não existir, os aliados dele o expõe ao risco de um vexame. Claro, em caso de solicitação indeferida. O que seria, politicamente, pior para um presidente fraco, que está pedindo e precisando de apoio. Uma terceira razão, vereadora, é que, quando a Câmara de BH, discute moção de apoio, pela mesmas razões, há dezenas de pedidos e manifestos pelo impeachment do presidente em todo o país.
Ao final, o que os vereadores estão fazendo também é campanha eleitoral pra si mesmos, já que são candidato à reeleição. Para isso, praticam a falta de decoro ao usar o Legislativo municipal, expondo-o ainda ao desgaste e os belo-horizontinos à zombaria. Quem deveria merecer moção de apoio e minuto de silêncio, sra. vereadora, são os mortos pela Covid-19 em Belo Horizonte.
PS. Uma ressalva, a matéria/carta foi dirigida à vereadora Nely Aquino apenas por sua representatividade, como presidente, mas não pelo estrago dessa proposta.
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