Zema é pressionado a não afrouxar as regras de combate ao coronavírus
A indecisão, ou lentidão, como classificam os críticos, está levando o governador Romeu Zema (Novo) a receber pressão de todos os lados para não recuar no combate à pandemia. A reação vem de autoridades e de outros poderes. A primeira manifestação veio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que cobrou, nesse domingo (29), esclarecimentos sobre a intenção de Zema em flexibilizar o isolamento social. E deu prazo de 24 horas. A quarentena decretada pelo próprio governador seguiu orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
Zema e secretários participam de videoconferência com o governo federal, foto Gil Leonardi/Imprensa MG
Influenciado pela condução errática, contestada e de alto risco do presidente Bolsonaro, Zema cogita alterar as regras de fechamento do comércio. As medidas do governo integram decreto dele sobre calamidade pública e que foi aprovado por 75 dos 77 deputados estaduais em votação remota.
Os promotores solicitam que, “antes da implementação de eventuais mudanças, que elas sejam informadas, assim como consideradas e apresentadas ao Ministério Público”.
MP aponta “reconhecida subnotificação”
O MP quer saber da avaliação dos cenários em caso de mudanças, estimativa de número de casos, mortes e leitos de UTI a serem utilizados em comparação com a manutenção das regras atuais.
Apontou ainda a reconhecida subnotificação de casos confirmados, por conta dos poucos testes feitos para Covid-19 para pacientes graves e profissionais de saúde. Destacou também as limitações de capacidade do laboratório da Funed (do Estado) para processar todos os exames encaminhados, “o que tem gerado grande represamento”.
Em entrevista, nesta segunda (30), o governador disse que iria dar as respostas ao MPMG e adiantou que a questão da flexibilização faz parte de estudos que estão sendo feitos. Seria, segundo ele, um planejamento para quando for o momento de retomar a atividade econômica.
O presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Julvan Lacerda, que é prefeito de Moema (oeste), envia ofício ao governador, nesta segunda (30), com objetivo semelhante. No documento, reafirma que os municípios manterão, sem medidas extremas, o isolamento e fechamento do comércio. Ainda ontem, a Associação enviou recomendação a todos os prefeitos nesse sentido. Os prefeitos reclamam da falta de articulação com o interior mineiro.
Números fora da realidade
Os números do estado também sugerem imprecisão, segundo as autoridades. O governo só confirmou a primeira morte, nesta segunda (30), depois que um médico do hospital Biocor, Estevão Urbano, divulgou morte por coronavírus. Urbano também é presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Os números do estado parecem não bater com a realidade. Vamos a eles. Até agora, o Estado só fez pouco mais de 500 testes em um Estado de 22 milhões de pessoas, e constatou que só 261 contraíram a doença, ou seja 45% dos casos. Porém, admitiu que há 29 mil suspeitos. Seguindo a média de 45%, teríamos cerca de 13 mil infectados. Se a letalidade é de 3%, como diz o Ministério da Saúde, Minas teria, pelo menos, 8 mortos sobre os 261 confirmados.
O Ceará, que é muito menor, com 8,8 milhões de habitantes, tem mais casos (348) que Minas, assim como o Distrito Federal (289 casos em 3 milhões de habitantes), Rio Grande do Sul e outros. Tudo somado, fica a quase certeza de que os números de Minas estão subdimensionados.
Faltam convênios, luvas, máscaras e EPIs
O governo do Estado ainda fez poucos convênios com laboratórios para agilizar os testes. Os gastos do governo ainda são modestos ante a pandemia. Faltam luvas, máscaras, EPIs, entre outros. O especialista Estevão Urbano advertiu que a demora na entrega dos resultados pode ocasionar subnotificação. Além de uma avaliação distorcida da realidade do coronavírus no Estado.
Amanhã, deverá ser a vez da situação repercutir na Assembleia Legislativa. Os deputados pretendem votar, nesta terça (31), projeto coletivo agrupando todas as propostas deles referentes ao combate ao coronavírus. Há também a possibilidade de alterarem a destinação de suas emendas parlamentares para essas ações. Cerca de R$ 100 milhões.