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Líderes da oposição tentam adiar, mas não controlam atos contra Bolsonaro

A questão é mais de estratégia do que de divisão. O movimento e as manifestações de oposição estão crescendo e voltando às ruas, apesar dos riscos com a pandemia. O Brasil alcançou a triste marca de 2º lugar em infecções e terceiro em mortes, com mais de 34 mil óbitos.

Por conta disso, as lideranças de oposição divulgaram carta, na quinta (4), desaconselhando a realização dos atos de protestos, no próximo domingo, exatamente no momento no qual eles estão, voluntariamente, crescendo.

O ex-presidente Lula reprova aderir a manifestos contra Bolsonaro (Paulo Pinto/AgênciaPT)

Não se trata de reprovação ou divisão, mas alegam riscos porque envolve quebra da regra de ouro nesse momento de crise sanitária, ou seja, o isolamento social. Do ponto de vista político, pode haver confrontos, o que vem, aliás, acontecendo em todo o mundo, especialmente onde os governos não estão alinhados com a vontade popular. Nem fazem da democracia um compromisso de governo. Fica, então, o receio de que militantes partidários sejam hostilizados. No domingo passado, atos contra e a favor do governo geraram confronto com a polícia na capital paulista.

Presidente tem duas estratégias

Alvo dos protestos, o presidente Bolsonaro está adotando duas estratégias: orientando seus apoiadores a não irem para as ruas e chamando a guarda nacional para reprimir os atos de domingo. Classifica os ativistas como “baderneiros, marginais e terroristas”.

Nesse sentido, a oposição está querendo evitar violência, porque além de infiltrados, existem grupos mais violentos, como os chamados black blocs. Além da ação agressiva, tumultuam as manifestações pacíficas. Tumulto e quebra-quebra é tudo o que o governo quer para vincular os atos de opositores ao terrorismo.

Lula volta a ser o velho Lula

Curiosa, e aí sim, com sinais de divisão, é a posição do ex-presidente Lula (PT), que deveria ser o principal líder da oposição. O petista não querer se misturar, unir-se aos diversos manifestos contra os ataques de Bolsonaro à democracia. Dizendo que não poderia estar ao lado da elite e de personalidades que ajudaram a derrubar a presidenta Dilma Rousseff e votaram contra os direitos trabalhistas.

Lula sempre foi assim e conduziu o PT para fora de importantes e históricos momentos da política brasileira, como o Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves em 1985. Foi assim também ao não apoiar a promulgação da atual Constituição Federal, em 1987, e ao Plano Real, em 1994.

A hora não deveria ser de disputa política por espaço, ou vaidades, mas em favor da democracia assim como aconteceu durante a ditadura, especialmente em seus últimos anos.

Apesar da recomendação, as lideranças de oposição não deverão ser seguidas, porque o movimento não foi iniciativa deles para acontecer e, provavelmente, não terão influência para adiá-lo.

Tem futebol na área da política

Apesar da dívida histórica, o futebol está dando sua contribuição política. No domingo (31), uniu torcidas rivais não organizadas, mas uniformizadas, em manifestação pela democracia nas ruas de São Paulo.

Atletas também estão se manifestando contra o racismo no calor dos protestos nos Estados Unidos após a morte covarde do negro George Floyd, que foi asfixiado pelo joelho de um policial branco.

O atacante Neymar, do PSG (Paris Saint-Germain), publicou em rede social, imagens em protesto pelo racismo, que, sabemos, não é exclusividade dos norte-americanos. No Brasil, é uma chaga histórica, uma ferida aberta nunca curada.

Por meio de seu perfil no Twitter, o capitão do Flamengo, o ex-cruzeirense Everton Ribeiro, citou o contexto do racismo estrutural. “Não é normal que um país onde a maioria da população é negra, eles sejam a minoria em universidades e grandes empresas”.

Outro atleta, Daniel Alves, do São Paulo, escreveu defendendo a vida de acordo com a palavra de ordem que se espalha pelo mundo de que ‘Vidas Negras Importam’. Alguns clubes também aderiram às manifestações, como o São Paulo, o Santos e o Corinthians.

Fundação Palmares ataca movimento negro Como não poderia deixar de ser o presidente da Fundação Cultural Palmares (governo federal), Sérgio Camargo, dizendo-se negro de direita, chamou o movimento negro de “escória maldita”. E que abrigaria “vagabundos”.

As declarações contra o movimento negro surgem então nesse momento em que protestos, iniciados nos Estados Unidos, se espalham por outros países, com bandeiras contra o racismo. Conhecido por manifestações racistas, Sérgio Camargo está querendo que trazer as manifestações dos EUA para as ruas brasileiras.

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