Será que Bolsonaro precisaria de Moro novamente para vencer Lula?
A decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as condenações do ex-presidente Lula, do PT, abalou a República. E mais, colocou em parafuso o sistema político e econômico que busca, e na maioria das vezes consegue, ter o controle dos rumos do país. Com isso, contamina a boa-fé do brasileiro, a democracia e a justiça.
Bolsonaro e Moro, antes aliados, agora, inimigos, foto Marcos Correa/PR
O que mais mexeu com Brasília nessa decisão monocrática do STF foi o fato de Lula recuperar os direitos políticos, com possibilidade de voltar a ser candidato presidencial. O que, aliás, lhe foi subtraído nas eleições passadas, como a cada dia e a cada avaliação vai ficando mais explicitado assim como suas razões.
Foi feito, à época, um uso político da justiça. Tanto é que o ex-juiz federal Sérgio Moro virou ministro da Justiça três meses depois de ter facilitado a vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Agora, Bolsonaro tentará a reeleição, em 2022, mas não terá um Sérgio Moro para lhe ajudar. Ao contrário, os dois hoje se odeiam.
Passado é mais grave que risco futuro
Antes, no entanto, de se preocupar com o futuro, no caso com as eleições presidenciais, os políticos de forma geral deveriam se concentrar no passado. Afinal, como se condena e leva à prisão uma pessoa, ainda mais um ex-presidente da República e subtrai-lhe os direitos à presunção de inocência, de defesa, de ir e vir e de disputar as eleições? Lula ficou preso 580 dias. Essa é um tipo de sentença e de penalidade que não há como ser revertida ou reparada. Não há como devolver os dias sem liberdade.
O ex-juiz fez uso político da justiça; a política fez uso político dele e, quando não precisaram mais dele, o mandaram embora. Simples assim.
A maioria dos políticos que ficou preocupada com a decisão se manifestou apreensiva sobre os próprios projetos políticos do futuro. Bolsonaro quis, aparentemente, deixar a impressão que foi bom para ele, à medida que favoreceria a polarização entre o que ele representa, a extrema direita, e Lula, a extrema esquerda.
Caso de miopia ideológica
Em um cenário de governo Bolsonaro, todos aqueles que o criticam e são contra seu governo são acusados como de extrema esquerda, petista e comunista. Um fake News e erro grosseiro de visão política e ideológica.
No entanto, Bolsonaro precisa dessa confusão, especialmente, de mentiras para se sustentar no poder. Muitos dos que se arrependeram do voto em Bolsonaro recuam diante da possibilidade de retorno de Lula e do PT ao governo federal. Mesmo diante do fracasso do governo Bolsonaro, especialmente, no combate à pandemia. Os motivos apresentados são os mesmos que levaram à condenação de Lula, agora anulada, e à criminalização do PT e da política, que, agora, também terá que ser revista.
Se os danos ao ex-presidente Lula não podem mais ser reparados, ainda que ele seja inocentado, todo esse estrago que afetou a justiça e a democracia pode ser identificado e denunciado à luz do estado democrático de direito.
Não se justificam os medos dos rivais em ter que enfrentar Lula nas eleições futuras. Todos deveriam ter receio, apreensão e indignação, sim, de que tais violações aconteçam com eles. E mais, que o país seja ameaçado por um retrocesso político que nega a ciência e, principalmente, o voto popular e informatizado como símbolo da democracia brasileira.
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